quarta-feira, 4 de abril de 2012

Senhores (Voz Aos Mudos)

Dê-mos voz aos mudos, o silêncio a quem se cala, a morte a quem vive e a vida a quem morre, num desespero tal de inversão da regularidade banal das coisas, que tornemos toda a lógica atormentadora, por ilusões e fracassos vários de mentes deturpados, percamos os valores que nos orgulham, os egos que nos sobreelevam a pele, vamos ganhar a pobreza da humildade, a mentira da verdade, a sorte da derrota e o desprezo da humilhação, faz sentido, afinal fazer sentido é ser exactamente o não sentido de existir, ser verdadeiro é ser mentira num futuro distante e ter razão é ninguém desconfiar de alternativas erróneas num determinado momento, espamos, o que nos mantém aqui satisfeitos na terra que nos viu nascer é exactamente a alegria, o gozo que nos dá, deturpar a razão e mentir, afinal,

A mentira surge da invenção da verdade,
O inverso surge de um certo,
E nós criamos o que quisermos,
Senhores da Ilusão

Em todas as ruas a felicidade, em todas as brechas esperança
Enquanto subsistirmos, a beleza nascerá nos reconditos negros da humanidade,
Fecha os olhos e verás,
Senhores da Escuridão.

Enquanto as flores se erguem do nada, os homens da virtude alheia,
A perfeição do imperfeito e a mentira da verdade,
Dá-me a mão e esquece-me
Senhoras da Solidão

The Edge

No pico da montanha dos altos cumes da solidão, hoje, sem dúvidas, sem qualquer margem para desconfianças, trata-se de sentir a pressa, o perigo de ter as tuas mãos nas minhas, o meu corpo no teu, estamos no cume, no ponto mais alto, agarra te à verdade de sermos nós os senhores do universo, os magos da sabedoria, os donos da verdade, no cume da glória, agarra-te a mim, olha o mundo, ri-te para ele porque estás comigo e, juntos, agora e sempre, estamos no ponto mais alto da vida humano, estamos um quando o mundo julga que somos dois.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Virar da Curva


Serenamente na mão da criança que já fui, nos tempos de outrora, serenamente, sentir a forma da curva antes de a trespassar de índole forma sentida, eu queria ter tido tanto, oceanos inteiros, ventos meus, casas em ilhas perdidas, lagos e espaços largos em terras distantes, queria ter gritado, ter ousado, ter matado, ter sentido, queria ser mais alto, não em altura que essa já me basta, gostava de ter tido asas, não voar, mas asas para que soubesse da existência da possibilidade de ter o infinito, quanto mais fundo vou na curva mais me agarro ao presente, não cansa este prender,

Virar a curva sempre,
Com a certeza que ainda me falta estrada a percorrer

quinta-feira, 15 de março de 2012

Não é Perfeito

Não é perfeito esquecer ou ousar apagar, a cobardia grande dos homens é, ainda agora vi o louco sozinho a cantar, no alto daquela janela, a noite vem tocando em sítios que não devo, solicitando ao cérebro que seja mais, que vá aos recônditos espaços do medo.

Será que vai?
Só a noite dirá...

Breve Leve


Sei que é breve, sei que não é inteiro, é suave, é parte
Não é instinto, não é ciume
é apenas um passo por cima do lume.

Não é cansaço, nem sossego, um medo calado
um pequeno apego,
Por hoje chega, por agora basta,
O meu eu é Tudo o que me resta
E tanto me afasta

Memento

Memória, a forma mais precária de informação, onde restam as dores mais profundas, auqelas que nos crotam a respiração de uma vez só, nos apagam o sorriso e nos enchem de olhar molhados, suados de preocupação, outras onde lembramos a felicidade que nos encheu os poros de alegria, os pequenos momentos de saudade, aqueles que nos marcam e nos tornam quem somos, mais fortes que a alma, mais altos que o céu, mas cheio que tudo,
Por muito dolorosos que alguns momentos sejam, elas tornam-nos quem somos, quem fomos e quem iremos ser, não aparte de nós, apenas, mas é a alavanca de ser feliz, ser verdadeiro, ter a minha memória numa mão e o futuro à frente.

Em caminho...

Estória

A cada passo que damos, uma sentinela de facas pontiagudas se preparam para transpor as nossas costas, umas rápidas num gemido de dor, outras lentas, desfigurando penosamente a pele, abrindo-lhe brechas finas e longas, estrangulando a pouca vida que nos resta, cai-nos o fôlego, apaga-se a alma, caímos e o mundo colapsa, mesmo estando sentados.
Provamos o chão sem gosto, sem gesto, sem qualquer tipo de reacção, somos passado agora, estamos marcados agora, somos um azulejo para sempre eternizado naquele bocado de terra que se chama vida.

A faca sai, o sangue corre, a alma renasce,
Quem sabe se um dia teremos força para nos levantarmos...