quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Filhos da Madrugada


Menina dos olhos tristes quem te faz assim tão só,
Cria em mim a alma de ser mais,
Põe em ti o soldado do mundo,
Numa guerra sem Parar.

Senhora de cariz triste,
Que fatiga de cala, que mar te silencia
Cria um sorriso de penas
Em manhãs de guerrear.

Somos filhos da Madrugada destinados a viver, aguardando pela aurora.
Se não a pedirmos, se não a criarmos,
Seremos eternamente filhos da madrugada
com infinitos desejos de passar.

Ficar no Teu Corpo

Quero ficar no teu corpo, quando a noite vier, em nossos braços se criará a luz, perpetua-me no teu sorriso, em cada malandro dente que se verga em mim, pega-me mas não me largues, enche-me de ti, quero brincar no teu leito, sentir toda a tua chama, bailando em cada passo teu, alucina-me, ilumina-me quando a noite vier, sente-me, grita, mostra o quanto nós podemos ser, cria fantasmas de passados presentes, repousa na minha face o gesto do teu cansaço, cria em mim o teu espelho já baço, sê a cruz na minhas costas, retalha-me a alma em pequenas porções de prazer,
No fim, quando é noite, sou a tua cicatriz corrosiva, metálica e ferrugenta, marcada a quente no teu corpo, com fogo com frio e com alma, na tua carne vermelha já ressentida de mim, já vejo as sereias a passar por mim, tocando e beliscando o corpo todo,

Nem sempre senti-mos a realidade, o teu corpo é o meu mar.
A respiração o meu pecado

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Não São Lágrimas

Não são lágrimas os reflexos reluzentes das luzes da manhã nos meus olhos, são rastos do passado a experimentarem a luz do dia,
Não são lágrimas as gotas de chuva que me saem dos olhos e me beijam a face outrora rosada, são apenas evidências do modo natural como os olhos são  espelhos metereológicos,
Não são lágrimas o que me enche o coração nem são lágrimas os barulhos silenciosos que já não oiço,
Não são estas as lágrimas que verto ao lembrar que irei estar sempre debaixo deste sobreiro aguardando que venhas ver o teu lugar,
Não são lágrimas o que suja este banco, enquanto eu espreito a sobra da sombra que deram, e o rio chama-me de longe na viagem,

Não são lágrimas o que sinto, mas o peso da viagem nos meus olhos
Não são lágrimas, são desejos de tempo.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Apesar

A poesia é para comer, em largas dentadas de raiva, sentindo a dor em cada letra, a tristeza de cada rima, a solidão de cada quadra, o pecado em cada falta de pontuação,
Amanhã há de ser outro dia em que me pergunto até onde vai a poesia,
Como vais proibir o resulto significado que já não há em ti,
Como seremos nos parando sem amar, o momento de calar o sofrimento,
e ficar sós a sós, inventando tristezas e mágoas, silêncios e vultos

Amanhã há de ser outro dia, apesar da poesia comida, da hora perdida, dos abraços perdidos, dos sonhos sonhados, dos sons calados, das vozes amarguradas,


Apesar de tudo, as horas ainda passam...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Nada de Nada

Pelos caminhos insinuosos da minha vida, pelas intenções perdidas em conversas ocas e estranhas insinuações de perdas involuntárias, perco a minha integridade ao dizerem que não, Não podemos ser, Não podes dizer, Não podias,

Eu, não quero sacrilégios, nem erros, nem leis que me apertem a vista, nem civilizações que ocultem a minha cara,

Tudo me é igual, mentira,

Os passos errados e incertos, os certos e contidos
Nada de nada devo,
Meu passo é meu
Nada de Nada é doutrem.

NADA,
se calem os audazes para falarem os loucos

God Help The Outcasts II


Vejo a tua cara e os meus joelhos reflectidos perante a tua grandeza, ajuda os párias desta sociedade, não peço glórias, não peço transformações, nem riquezas de maior virtude, não quero mais,

Peço nada, eu consigo ser mais, consigo ultrapassar, mas tantos outros se perdem nos caminhos da virtude, peço por eles, pois todos somos crianças de Deus,

Ajuda os Párias a serem eles mesmos perante os espelhos da igualdade.

Dá-me a mão


Esquece o barulho do comboio, silenciando os poucos pássaros que nos restam,
e dá-me a mão,
Apaga a civilização que nos sobra e respira o mar que nos cheira,
e dá-me a mão.

Entre tudo e todos procura-a

A minha mão está com a tua enquanto eu tiver um lugar no teu coração

Para Sempre

Velho e sentado nas rugas dos meus passos lentos, escrevo-te neste pequeno banco de um longiquo jardim, entre os passos de crianças que baloiçavam inocentes entre os baloiços ferrugentos e o escorrega alto de mais para as nossas pedras, depois aquando do primeiro toque na face, leve, sentida, com a leveza da palma da mão, uma pequena pena que por ti passou, libertou uma lágrima pura, cristalina, única, e, anos mais tarde, quando as nossas cabeças se uniram para ver o sonho da nossa perduração, por fim, o triste momento em que me sentei a teu lado na cama, Estás bem?, Sim, simplesmente feliz por estares comigo, sempre doce nas palavras, Respira, vive, não sou nada sem ti, Beija-me, Sempre.

Os nossos lábios já gastos de tanto se amarem cruzaram-se em suspiro, um simples toque, e o ar soltou-se todo de uma vez, os teus olhos empalideceram e o teu rosto despersonificou-se em cinzas enterradas na jarra do meu quarto.

Depois de tudo, neste mesmo banco, não choro, porque juntos estamos sempre,


Entre estares comigo e te ausentares, ausenta-te comigo e para sempre te amarei.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Decalque

Este sou eu, ou não tão eu, visto que a ausência de mim me define tanto como a minha própria presença, sou transparente ao mar, opaco ao sol, íntimos nos pequenos silêncios e profundo nos vagões de palavras, são escuro a quem não quer ver, transparente a quem me quer olhar, perfeito pelos contornos insinuantes de um pensamento confuso, tão confuso que nem sei se ele existe.

Entre o mar, as nuvens e eu, é todo perspectiva, é todo sinal de vagas e insinuantes ausências de estar,

Ausente em estar, presente em ser, 
sou o decalque do que sobra nas vezes que não me basto.

Lágrimas

As lágrimas que choro não são por ti,
nem pelo halo seco das searas
são pelo mundo que perdemos
e pela hipótese de nunca mais o encontrarmos

Estes olhos que choram não são meus,
são mundos  e poemas de outro que não eu,

Provei outro mar, 

Vivi, em mim, sem mim,
com a calma devida que antecede à dor,

No fim, as lágrimas que choro não são penas, são frutos de uma saudade que ainda não chegou
são caminhos de felicidades que se perderam,
são desabafos de almas que se desencontraram

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Pegadas


As pegadas que deixo no chão, não as são senão lustros, ilusões, vagos espirros de sensatez inevitáveis, não são marcas pois nada dizem às pessoas, não são rasto porque não sei onde me levam, não são pegadas, porque nada meu lá ficou, meramente a sola beijou o asfalto, não são minhas porque não foi a minha vontade que as imperou, não são nada, contudo, dizem, silenciosas, que eu passei por ali, com muita ou pouca intensidade, 
as pegadas levam-nos ao sítio onde estivemos,
as pegadas são o que nunca tivemos coragem de ser,
as pegadas não são nada mas dizem tanto, mesmo sem nós querermos...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Paz, Calma


O que hoje quero é paz, tranquilidade serena, sentada à beira mágoa, comigo mesmo, na minha eterna saudade de ser só, só eu comigo, esquecendo o velho vizinho que lentamente entrega despojos de pão aos pombos, acariciandos à distância de um banquete digno de reis, esquecendo as ondas que entregam barulho oco aos nossos ouvidos, as crianças que correm pelo passeio inocente, gritando a infância que lhes sobra, as bicicletas remoendo a vida, enrolando-a em correntes de metal, e, no meio disto tudo, eu, sentado no corrimão cinzento de pedra, calmo,

há momentos em que ao pensar para onde vamos, decidimos parar e ver o mar ir à distância de um sonho.

Lisboa

Entro em Lisboa como quem abraça uma nova cidade, diariamente no carro, caminhamos sentados ao longo de penosos caminhos tortuosos, com paisagens de pneus e cheiros de gasodutos, abraça-mos a nova cidade eternamente velha, com lamaçais ocultos e velhos respingas em escadarias, em calçadas, em janelas partidas, sempre lá, sempre eternos, como a eternidade da cidade.

E o carro anda sozinho, os olhos esvoaçam pela paisagem, pelos carros, pelas pessoas e vejo:
 como somos tão diferentes e vamos todos parar ao mesmo sítio.

Somos todos diferentes em direcção ao nosso destino